Quando o ser humano e a natureza pura se conjugam, eis que nasce a perfeição

Quando o ser humano e a natureza pura se conjugam, eis que nasce a perfeição

29 de janeiro de 2007

11 de Fevreiro - IVG


Dia 11 lá teremos, uma vez mais, a nossa obrigação de ir votar. Desta vez para o referendo da Interrupção Voluntária da Gravidez.
No meu ver, acho que se deveria chamar antes, despenalização, ou melhor ainda, descriminalização da Interrupção Voluntária da Gravidez.
Porque não acredito que nenhuma mulher tenha o mínimo prazer em abortar, pois estar grávida deve ser, concerteza, o maior prazer que se pode ter na vida, mas quando desejada e compatível com o seu modo de vida.
Assim, a lei que vai a referendo pretende abrir esta possibilidade, sobretudo, às mulheres pobres e mais oprimidas, de quotidianos muito difíceis, porque as outras, as de nível social e cultural superior, não precisam que se lhes abra esta possibilidade. Quando decidirem abortar, mesmo que votem “não” no Referendo, sabem muito bem onde há clínicas privadas e vão por elas, como quem dá um passeio à nossa vizinha Espanha.
Tive o prazer de ler uma opinião dum padre àcerca do assunto, de onde retirei este pequeno excerto:
"(...) Então, para os que estão do lado do "Não", para estes as mulheres que em consciência decidem abortar não existem como pessoas, sujeitos de direitos e de deveres, são apenas coisas, barrigas de aluguer, objectos que os machos irresponsavelmente engravidam e, depois ainda, lhes exigem que levem a gravidez deles ao fim, sob pena de irem para a cadeia, se se recusarem a fazer-lhes a vontade, expressa em leis que eles escreveram e aprovaram, e em julgamentos a que eles presidem e onde dão as sentenças.
Por mim, não quero que uma mulher que em consciência decidiu abortar tenha, como única saída, o aborto clandestino, feito em condições traumáticas que podem tornar infecunda para o resto da vida aquela que o faz, tantas vezes, ainda jovem, ou mesmo adolescente, e que, por razões as mais diversas, engravidou contra a sua vontade. Nem que a razão mais forte tenha sido a irresponsabilidade ou a leviandade ocasionais. Numa sociedade humana, não apenas animal, quero que a mulher embaraçada com uma gravidez não programada e não projectada tenha outra porta aonde bater e que essa porta sejam os estabelecimentos de saúde pública. A lei que vai a referendo é isso que proporciona às mulheres grávidas que em consciência decidam abortar, no período máximo das primeiras dez semanas. Por isso é bem-vinda. Já deveria ter sido aprovada há muitos anos.
Os bispos católicos portugueses, infelizmente, não vêem assim. E escondem-se por trás do que eufemisticamente chamam “defesa da vida”. Mas quem defende mais a vida, no caso concreto duma mulher que decidiu na sua consciência abortar? O que a atira para o aborto clandestino e para a prisão, ou o que lhe abre a porta do hospital público, em ambiente de humanidade, de afecto, de diálogo e de menos traumas? Nesta última via, a mulher não fica em melhores condições de saúde para poder programar uma nova gravidez desejada e levá-la ao fim? Aliás, conceber entre seres humanos, não há-de ser diferente, não tem de ser diferente de conceber entre animais? Ou um acto de tamanha importância, como é gerar uma filha, um filho, não exige mais, muito mais do que o simplismo irresponsável de um “aconteceu e agora há que aguentar?”
É hipocrisia ignorar esta realidade e, em alternativa, defender que se deve investir tudo na prevenção, em lugar de ir a correr aprovar a lei de despenalização do aborto. O que eu defendo é: aposte-se tudo na prevenção, mas, enquanto continuar a haver mulheres que abortem às mãos de habilidosas abortadeiras, aprove-se a lei de despenalização e abram-se os hospitais públicos a estas mulheres de carne e osso e de vidas difíceis, como alternativa às abortadeiras e à clandestinidade. Não coloquemos as coisas em disjuntiva, ou-ou, mas em copulativa, e-e; não, prevenção ou lei de despenalização, mas, prevenção e lei de despenalização, pelo menos enquanto esta for necessária como mal menor. Acho que esta minha posição prática/pastoral está muito mais conforme ao Evangelho de Deus que Jesus, o de Nazaré, nos deu a conhecer mediante a sua prática cheia de misericórdia contra a insensibilidade/crueldade dos fariseus que, em nome da pureza legal, mantinham as pessoas, sobretudo, as mulheres na opressão e na menoridade e na impossibilidade de escolherem em consciência.
Que cruel é o Direito Canónico da Igreja católica que condena com pena de excomunhão as mulheres que abortam; e já não condenaria com essa mesma pena as mulheres que, só para não serem excomungadas, decidissem levar a gravidez ao fim e depois matassem o bebé recém-nascido. Espantam-se? Mas é assim a crueldade do Código de Direito Canónico! Mas eu pergunto mais: E porque é que só o aborto tem pena de excomunhão e não todo e qualquer homicídio voluntário, as guerras e os ditadores? Não é porque só as mulheres podem escolher e decidir abortar, não os homens?
Digo mais: Insensíveis são os bispos católicos, para não dizer cruéis, que não querem que as mulheres sejam sujeito de direitos e de deveres, também em relação ao seu corpo e à sua sexualidade e para decidirem em consciência se hão-de abortar ou não. Querem-nas eternamente menores, súbditas, tuteladas, primeiro aos pais, depois aos maridos e, durante toda a vida, aos párocos, aos bispos e ao papa." (Padre Mário de Oliveira).
Assim, a minha opinião é de que não será por se despenalizar a IVG que haverá uma levada de abortos, pois não é por ser legal que uma mulher que esteja grávida, se irá dirigir aos hospitais para abortar.
Apenas acho que uma gravidez não nasce somente através de actos que uma mulher possa ter praticado, pois é algo em que necessita de uma parte masculina e é por isso que não percebo como pode ser a mulher a única condenada, pois se o que está em questão e que os defensores do "Não" tanto apregoam, é o matar uma vida, então essa vida pertence aos dois, homem e mulher, não é por residir na barriga da mãe que esta será a única responsável.
Também não acho correcto que uma mulher decida abortar sem conversar, decidir, concluir o que quer que seja, sem o conhecimento daquele que também está "grávido". A questão é que muitas das vezes, a parte masculina, simplesmente, desaparece. Mas concluo assim, que a mulher não tem de ser condenada, porque muitas vezes esta foi, uma vez mais e, apenas só, um mero reservatório de esperma.
Aqueles que se dizem defensores de vida, que tanto apregoam a que não se efectuem estes abortos, até porque a taxa de natalidade é baixíssima... mas que raio de argumento é este??? Quando hoje em dia, uma gravidez, já quando planeada entre o casal, onde muitas das vezes os filhos mesmo assim acabam por não ser mais do que fardos, quanto mais se vierem indesejadamente.
Este mundo precisa de pessoas que sejam amadas, e não mães que têm os seus filhos só por ter e depois ou os abandonam em um qualquer caixote de lixo, ou são crianças que vivem toda a vida infelizes, por se sentirem a mais.
Uma vida nasce de um amor entre duas pessoas, quando assim não é não faz sentido existir.
Cada um decide, eu estarei lá para receber o seu voto.
Dia 11 de fevereiro lá nos encontramos.
Vá votar

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